Livro de Poesia - Desassossegos de um Bardo: Menina Triste - IV
IV
“TRISTE MENINA”
Ela deixa cair os braços e chora no meu peito,
Ela está amargurada
Como orvalho frio na aurora agreste,
Triste com seu mundo que acha imperfeito,
Parece acabada,
Uma sombra incolor no crepúsculo celeste…
Conta-me:
O que tens tu menina?
O que te põe tão triste?
Abre-me essa tua alma e deixa-me entrar,
Não te escondas sozinha na escuridão sem luar,
E regressa à luz de onde fugiste,
Sai desse espaço náufrago, um escombro,
Estás perdida nas trevas, toma o meu ombro…
Vem menina triste, triste menina …
Os seus olhos parecem janelas vibrando na chuva,
Molhados, escurecidos pela mágoa que afunda,
Por essa dor cada vez mais profunda,
Menina triste parecendo viúva,
Que sofre mesmo sem se casar.
Talvez o meu amor a faça sarar…
Ela caminha solitária por entre paredes;
Perdida num espaço onde a minha voz não chega,
Nas teias da dor,
Emaranhada nas redes
De um sofrimento de tragédia grega.
Mas eu sei que ela gosta de me sentir perto
Gosta de tomar meu ombro por certo…
Vem menina triste, triste menina …
Ela senta-se num canto perto da porta.
(Tem de haver solução - eu quero gritar)
Ali, quase inerte, parece estar morta
(Desde que ela me queira para a ajudar)
Menina triste não fiques assim
Amanhã é princípio e nunca o fim…
Eu faço o impossível para lhe mostrar a saída,
E talvez um dia eu a liberte
Tanto farei que talvez acerte,
E talvez então ela volte à vida,
Pode ser que consiga ganhar sem perder
Embora saiba que só eu a sei ver…
Vem menina triste, triste menina …
Gil Saraiva
Nota: Inspirado na canção (e temática) de Cat Stevens: «Sad Lisa».