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IV
"VERGONHA"
No eco dos sentidos
Mais profundos
Procuro com fervor
Uma outra idade...
E lembro os velhos tempos
Com saudade...
E, outra vez,
Vivo-os, por segundos...
Mas se meus anos
Foram tão fecundos,
E já alguns eu tenho
Em minha idade,
Noventa devo ter eu
De ansiedade
Pois tenho o Ser e a Alma
Moribundos,
Perdidos entre sonhos,
Vagabundos...
Meu eco,
Do sofrer,
Viveu imune
Até dele alguém
Fazer denúncia...
Não mais poderá
Ficar impune...
E a vida irá mudar
Se houver renúncia...
Meu ego
Esqueceu como se sonha...
Ficou dentro de mim,
Por ter vergonha!...
Gil Saraiva
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Nota do Autor:
I
“GOTA DE LÁGRIMA”
Pelo teu rosto se desenha, em movimento,
A lágrima que cai, neste momento…
E, se olhares para mim, não me vês chorar.
Jamais conseguirias, pois não sabes
Sequer onde ou como procurar…
Porque a gota de lágrima que choro,
É por dentro, entre a alma e o coração,
Que desce, que resvala, que ecoa,
Por não saberes o quanto eu te adoro,
Nas cavernas das saudades do meu ego
A onde a tua lágrima ocupa um oceano,
Por onde tristemente eu navego…
Vem, ama-me mesmo que por engano,
Vem, ó gota de lágrima que adoro,
Junta-te à lágrima que eu, agora, choro…
Gil Saraiva
Observação: Os poemas deste livro foram criados entre 2003 e 2008
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XII
“DESPEDIDA”
No Hotel Portaló o ser se reparte
Qual afago, festa ou cafuné,
De chalé em chalé
Cultura é baluarte
Que à natureza se mistura
Com engenho…
Quem chega,
Chega a um mundo à parte;
Quem parte
Não esquece o desempenho
De quem
O acolheu naquele hotel,
De quem
Lhe deu guarida,
Deu quartel,
Deu nova vida…
Portaló não é porta,
É como um véu,
Passar por ele só importa
Para quem quer ficar perto do céu…
Quem parte
Leva natura e arte
Quem chega
Tem saudades quando parte…
Gil Saraiva
* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso
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PORTALÓ (MEMÓRIAS DA BAHIA) -----"----- PARTE I: PAISAGENS OU O SORTILÉGIO DA PAIXÃO
I
“MAIS PERTO DO CÉU”
Quem não tem
Fantasias nesta vida?
Filmes não vividos,
Só sonhados…
Soluções impossíveis
Que parecem ter saída,
Raciocínios absurdos,
Mas na perfeição elaborados…
Caminhos percorridos
Pela mente,
Porque foram,
Por ela,
Imaginados.
Sonhar uma viagem,
Mas tão secretamente,
Que não se encontram
Excertos registados…
E assim…
Descobri um ponto no infinito,
Preciso, definido,
Desvendado,
E vê-lo mais perto,
Cada vez,
Sem palavras usar,
Nem mero grito,
A pouco e pouco
Melhor sendo focado,
Redesenhando,
Com espantosa nitidez,
As formas, os traços,
As imagens,
Que na memória recordam as paisagens…
Quem não teve
Fantasias nesta vida?
Quem não sentiu saudades
Mesmo que apenas de fugida?
Foi destapado o esquecimento,
O véu,
Que nos prova o quanto,
De verdade,
Já vivemos plena felicidade,
Mais perto,
Bem mais perto do céu…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
FOI HÁ 28 ANOS, UM MÊS E 28 DIAS - A 12 DE NOVEMBRO DE 1991 (mesma data do poema). PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA!
ADEUS HERÓIS DO MAR (clicar para ouvir)
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"CARTA DE UM TIMORENSE"
Adeus Heróis do Mar
Das armas e barões já reformados...
Adeus a todos vós que edificaram
Este reino que um dia foi Timor
Adeus ó nobre Povo
De quem um dia herdámos
A força, a valentia, a resistência...
Faz muitos anos que da dor
Fazemos pão...
Desde o dia da vossa despedida
Que caça somos de um vil invasor...
A vós Heróis do Mar
Pedimos hoje
Que com esplendor levanteis de novo
A nossa,
Hoje triste,
Terra de Timor...
Quando em Dili
Fomos massacrados,
Quem nos ouviu pode comprovar
Que em Português, ao morrer,
Dissemos: MÃE
Eu sou o Joaquim, ele o António,
Da Silva, da Fonseca, do Rosário...
Ó Heróis do Mar
Pois foi de vós
Que a palavra saudade
A nós chegou...
E que saudades de vós
Heróis do Mar!...
Gil Saraiva
![Saudades.jpg Saudades.jpg]()
"SAUDADES"
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje recordado...
Saudades
Vou deixando
Aqui, além...
Recordações
Eu guardo dos meus passos:
Daquele alguém que um dia olhou pra mim
E me chamou de amigo...
E num olhar
Disse poder guardar de mim memória
E registar bem fundo o meu sorriso...
Saudades
Vou guardando, conformado,
Daqui, de além e de todo o lado
Onde há um abraço de amizade;
Onde a Humanidade for humana;
Onde a Paz existir na Natureza
E onde a Liberdade for amada...
Saudades,
Nostalgias, lembranças, emoções
E outros sentimentos pouco claros
Que vão ficando em nós
E que nos tornam
Produtos inventados pela mente
De quem a nosso lado já viveu
E guardou para si a nossa imagem...
Saudades
De outrora... de uma hora,
Daquele momento exato,
Inesquecível,
Daquele instante louco, fugidio,
Em que a flor abriu, desabrochou...
Ou de outro que não conto por pudor,
Mas que por certo falava de Amor...
Saudades,
Momentos presentes do Passado
Que o Futuro não pode apagar;
Vivências de uma vida,
Lágrimas de dor, felicidade,
Desejos e gritos já vividos;
Anos de sonho e de saudades
E dias que são claras ilusões...
Saudades
Vou guardando, vou deixando
Aqui, ali, além, por todo o lado
Onde a lágrima seja borboleta
Ou onde a eternidade iluminada
Se reduza breve, num segundo,
A gotas de orvalho e de saudade...
Saudades
Choro de um riso antigo
Hoje, uma vez mais,
Já recordado
Ou novamente,
Até que enfim, reencontrado!...
Saudades
Choro de um riso antigo...
Gil Saraiva
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"SONETO"
O soneto entre nós foi caravela,
Rainha pela pena de Camões;
A alma foi, nas almas de milhões,
E tão pura, tão linda, tão singela.
Foi também o soneto amarga cela,
Um covil de saudades, frustrações,
Caverna de desgostos e paixões,
Ardil fatal nos versos de Florbela.
Foi ainda o soneto última laje,
Escura tumba do imortal Bocage.
Foi soneto o soneto com Antero,
Num ideal tão claro como austero.
Será soneto o que eu agora escrevo?
Não sei mesmo se a tal dizer me atrevo!...
Gil Saraiva