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Estro

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Estro do meu ego guarda a minha poesia, sem preocupações de forma ou conteúdo, apenas narrativas do que me constitui...

Livro de Poesia - Sortilégio Tropical: A Casa da Serra - XX

(entre cá e lá...)

A Casa da Serra.jpg

(Aldeia de Salgueirais, Celorico da Beira)        

           XX

 

"A CASA DA SERRA"

 

Por entre um tique-taque conhecido

E os assobios do austero e magro vento

Crepita na lareira, enraivecido,

Um fogo que à casa traz alento.

 

Zanga-se o fogo, agora tão esquecido,

Mas o velho granito, em pensamento,

Comenta, com um brilho divertido:

"- Ciúmes doutra chama em movimento..."

 

Nessa casa da serra, em Salgueirais,

Linda aldeia que o mapa não aponta,

A chama do amor entre os mortais

 

Tem dias que ao pudor rubor desponta...

Pois que entre tiquetaques conhecidos

Crepitam corações de amor tecidos....

 

Gil Saraiva

 

 

 

Livro de Poesia: Serra da Lua: Serra, Várzea e Mar - III

Serra, Várzea e Mar.jpg

               IV

 

"SERRA, VÁRZEA E MAR"

 

Na Serra do teu corpo

O amor

Não tem fim...

 

Na Várzea do teu ser

O sonho

Não tem nome...

 

No Mar do teu existir

A vida

Não tem idade...

 

Tem um rosto,

Um olhar,

Que te devora faminto

De expectativas,

De êxtase,

De plenitude...

 

Daqui,

Deste lugar único

Onde a paisagem

É apenas tu,

Eu venero a Serra Da Lua

Jurássica no existir,

Húmida na ramagem,

Nebulosa na sensualidade,

Verde na esperança

De um palácio sem pena

De quem, sem ti,

É Rei em tempo de República...

 

Sou como o labirinto

De minas e secretos caminhos

Que infestam Várzea e Mar,

Montes e penedos,

Arribas e falésias,

Vales e palacetes…

 

Sou a passagem esquecida

Que o teu caminhar nunca percorreu

Por falta de mapa ou segurança,

Ou porque a fé

Não tem preço marcado

Nas vendas da feira de S. Pedro...

 

Sou como o mar

Que afaga, sem cansaço,

A rocha talhada

Pelas caricias da espuma...

 

Sou como o vento

Criando cavernas, pontes

E esculturas maduras

De séculos de existir,

Mas jovens na forma hirta e firme

Com que recebem

As marés a cada dia

No litoral mais ocidental

Da velha Europa...

 

Mas tu és a flor,

Pura na cor alva dos teus braços,

Quais pétalas de seda

Onde amordaçaria meus lábios

Para a eternidade…

 

Tu és o ser

Simples,

Na forma selvagem e rebelde

Com que de branco e verde

Invades a floresta de acácias e pinheiros

Sem te importares com o tamanho,

O talho ou a idade dessa flora conformada

Com a existência...

 

Tu és minha,

Não por registo, contrato,

Declaração ou pacto,

Mas por amor!

 

Eu sou o Vagabundo Dos Limbos,

Haragano, O Etéreo,

Senhor da Bruma.

Que na Serra Da Lua

Estendeu a mão

E colheu para sempre do verde

O branco,

A pincelada,

A que as gentes chamam

Flor silvestre ou gota de água...

 

Na Serra do teu corpo

O amor

Não tem fim...

 

Na Várzea do teu ser

O sonho

Não tem nome...

 

No Mar do teu existir

A vida

Não tem idade...

 

Porque tu, como as marés,

Moldas em mim,

Como se rocha eu fosse,

Os segredos da força

Que nos une,

Os sentimentos

Que nos tornam um...

 

Um só ser, uma só serra,

uma única várzea,

Um imenso mar...

 

Nas Serras do teu corpo

Eu encontro o vale

E jamais me volto a encontrar!

 

Gil Saraiva

Livro de Poesia: Serra da Lua: - Introdução

Serra da Lua.jpg

INTRODUÇÃO

 

A vila de Sintra tem origens que se perdem no tempo e remontam ao período neolítico. Uma janela temporal que se estende entre 10 mil a 3 mil anos a.C., ou seja, desde que os homens começaram a assentar arraiais que, sem dificuldade, se podem encontrar registos pré-históricos no Concelho de Sintra. Não cabe a este preambulo reescrever a história toda nem mesmo sequer contá-la, num detalhe que a provaria como única e especial no contexto mundial.

Importa assinalar que os primeiros registos humanos da região foram encontrados na Serra de Sintra, perto de onde hoje se localiza São Pedro de Penaferrim e remontam ao início do V milénio a.C., tendo a região sido ocupada por diferentes povos e culturas. É no século II a.C. que a zona é tomada pelos romanos. São eles que revelam, primeiramente, o misticismo especial da região, as práticas religiosas ou pagãs, que os precederam e que se mantiveram depois de adaptadas à cultura romana. Sintra foi romana por 7 séculos e entre 30 e 50 a.C., não se sabe ao certo, passou a município pelas mãos de Júlio César ou de Octávio.

Ptolomeu, frequentemente considerado um dos pilares da astronomia antiga, era um cientista grego que viveu em Alexandria e é um dos frutos notáveis da famosa escola de Alexandria, no Egito, sob o domínio romano de Adriano. Porém, a criação da astronomia tem a sua fundação mais de um século antes com Hiparco. Foi, contudo, Ptolomeu que usou pela primeira vez a designação “Serra da Lua” para denominar a serra de Sintra. Ainda nos dias de hoje há quem se interrogue o que terá levado Ptolomeu, no Egito, a referir-se a Sintra.

Suntria é a forma medieval mais antiga que se conhece de Sintra, tem, ao que tudo indica uma origem indo-europeia e significaria Sol ou astro luminoso. Já a classificação da serra como Monte Sagrado remonta ou a Varrão, ainda no segundo século a.C. ou a Columeia, já no primeiro século d.C., as opiniões sobre o assunto dividem-se, não deixando de ser ambas bem remotas.

Durante o domínio árabe, que durou mais de quinhentos anos, no século X, um geógrafo árabe, de nome Al-Bacr, classificou Sintra como a terra “permanentemente mergulhada numa bruma que não se dissipa”, embora se defenda que ele se estava a referir apenas à serra onde os árabes tinham o seu castelo. São dessa altura as designações de Sintra como Xintara ou Shantara (em árabe), onde esta aparece como sendo uma das principais localidades do Califado do Al-Andaluz, um dos principais califados árabes na Península Ibérica. A influência árabe, que nunca apagou os registos celtas da região, também jamais se deixaria desaparecer depois de perder o poder na zona. Mantiveram-se nomes de locais, muitos mitos e algumas tradições desses tempos que ainda hoje ecoam serra abaixo.

No Século XI dá-se a reconquista cristã, pelo Rei Afonso VI de Leão, mas, por várias vezes se perde o domínio cristão de Sintra que, na altura, depois de Lisboa, era o polo económico mais importante da região. São precisos 50 anos, entre a última década do século XI até 1147 para, já em meados do século XII, poucos anos após a transformação do condado portucalense em Portugal (em 1143), D. Afonso Henriques consolidar definitivamente Sintra como território português e consequentemente cristão. Uma terra difícil de conquistar pelo apego e paixão dos povos à sua singularidade e riqueza de contrastes.

Uma vez integrada em território nacional Sintra evoluiu e expandiu-se exercendo a sua influência pelos terrenos em seu redor. A terra das grandes maçãs, descrita deste a antiguidade como chegando a ter quatro palmos de perímetro, impôs o seu domínio regional até abranger a dimensão que hoje se lhe conhece. Contudo, foi o real amor por estas paragens que as fizeram crescer em termos românticos arquitetónicos e mesmo arqueológicos, com a realeza e a nobreza a implantarem palácios, palacetes, grandes casas senhoriais, quintas, fontes, monumentos, igrejas, capelas e infraestruturas por todo o seu território.

De todo o mundo foram importadas árvores exóticas e raras para serem plantadas na serra. A flora foi deliberadamente implantada para gerar impacto, beleza e misticismo. Criaram-se jardins únicos, esplendorosos, frescos, verdejantes e românticos, como nunca aquela terra vira nascer até ali. Camões, referindo-se ao Cabo da Roca descreve-o como sendo o local “onde a terra se acaba e o mar começa” sendo este, realmente, o ponto mais ocidental da Europa. Poetas e Escritores ingleses também ajudaram a criar a imagem de paraíso que envolve Sintra, uns chama-lhe o Éden da Terra, Lord Byron descreve-a como a vila mais bonita do mundo, o prémio nobel da literatura Isaac Bashevis Singer, dedica-lhe o conto “Sabbath in Portugal” onde se retrata a passear por Sintra. Há registo da admiração por Sintra por parte de nórdicos, franceses, italianos, gregos, holandeses e, evidentemente, portugueses. São muitos e famosos os exemplos da paixão contínua e permanente pela Paisagem Cultural de Sintra, Património Mundial da UNESCO.

Contudo, é nesta terra, onde um batólito, na Praia Grande, ainda tem gravadas, de forma bem visível, pegadas de dinossauros impressas em tempos imemoriais, que uma mística especial se instalou para nunca mais se desvanecer. O batólito, que algures na história da Terra rodou sobre si mesmo 90 graus, retrata agora na sua parede, os passos pré-históricos dados por esses seres antigos muito antes do despontar da humanidade. É ele que encarna a antiguidade de Sintra e da sua serra, cuja altura máxima se eleva 520 metros a cima do nível do mar. É ele que serve de marco misterioso e singular, pelo registo, agora vertical, dessa passagem, perdida no tempo, dos gigantes, por Sintra, ali bem junto à Praia Grande.

O encontro entre serra e mar, o capacete nubloso no topo dos montes, a bruma permanente, o acabar das terras do ocidente, os registros pré-históricos, a diversidade de culturas e povos apaixonados pela região ao longo da sua história, a marca e o registo da sua influência em grandes nomes da história, geraram lendas, narrativas, ficções, romances, contos, fantasias, fábulas e mistérios, do sagrado ao profano, do místico ao histórico, do real ao sobrenatural. As utopias de uns passaram, depois de adaptadas, a ser os milagres de outros ou os contos de mais alguém. As culturas misturaram-se inventando novos mitos e ritos, descrevendo histórias, gerando ficções, inventando poemas, mezinhas e feitiços impossíveis.

Sintra, tem de tudo: lendas de mouras encantadas, contos de fadas, crónicas de elfos, ogres, gnomos, seres ocultos e irreais, entre outros entes, rituais de druidas, de encantadores, de magos e magas, bruxas e feiticeiros, novelas de paixão, de amor, de dor e de coragem, cantos e recantos recortados pelos verdes da imensa vegetação, rasgada por inúmeros cursos de água, ribeiros e ribeiras, pequenos rios que não riem, mas que à fauna e à flora a sede matam, fontes e fontanários, cursos de água que aparecem e desaparecem pela serra, cavando tuneis, ligando grutas misteriosas, muitas ainda por descobrir, um não mais acabar de segredos, mistérios e neblina que a tornam única, singular e absolutamente especial.

Na serra, o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, são apenas 2 dos marcos que se erguem sobre a vila. Um microclima impõe um caráter exclusivo a toda a região. A humidade e a bruma espalham o mistério consolidando tuneis e passagens secretas que ligam a serra à vila e que se alastram como uma teia oculta por todo o concelho. Há passagens destas que viajam quilómetros debaixo de rochas e penedos, atravessam a várzea, despontando finalmente em locais remotos e longínquos. Um deles chega a Rio de Mouro, já bem longe da serra. Há quem se questione sobre quantos mais estarão por descobrir. Os mistérios de Sintra nunca se desvendarão todos dizem vozes convencidas do ocultismo vibrante da região. O sobrenatural parece ter sede na Serra da Lua. Há quem fale de aparições, maldições, sacrilégios, rituais, fantasmas, lobisomens e vampiros. Tudo converge na mística névoa de senhores da bruma, quase sempre sem provas, factos ou bases que deem crédito às narrativas. O importante é o mistério.

As lendas e narrativas proliferam entre o pagão e o religioso, existem relatos de aparições, sortilégios, poções, feitiços, pragas, remédios, macumbas, magias e até da presença de seres de mundos que não o nosso. Nada que alguém se preocupe em provar ou demonstrar como real e evidente, a não ser, talvez, um ou outro fanático mais entusiasmado. É do restolhar das meias verdades inconclusivas que a serra se alimenta e prospera por entre a bruma.

Sintra é um local único e irrepetível, talhado na simbiose entre natureza e humanidade de uma forma singular. Onde a luz e a sombra trocam papeis como se do dia e da noite se tratassem. Onde a serra abraça a Lua como em mais nenhum lugar no mundo inteiro. Onde a bruma ganha corpo e quase vida, onde a luz se divide em tremendo confronto com as trevas. No cerne de tudo se ergue a Serra da Lua, que me inspirou em alguns livros que lhe dediquei. Nesta terra onde vivi 7 anos, perdido de amores, perdido de mim, perdido de solidão, porque aqui, nesta berma da existência, tudo acontece, tudo é possível tudo se contraria e reafirma. Enfim, tudo é poesia em paixão e movimento.

 

Gil Saraiva

 

 

Livro de Poesia: Portaló - Parte II - Portaló - IV - Mil Amores

Mil Amores.JPG

 

         IV

 

“MIL AMORES”

 

No ar, o som das aves é vida,

É luz que brilha atrevida,

É música, é alegria

Cantada, como por magia,

Em tom de felicidade

Com força, com garra, com vontade…

 

Pelas calçadas e valados

De um cinza feito de matizes,

Onde desponta, aqui e ali, a cor da terra,

Pelos arbustos salpicados

Entre o verde das copas

E o amarelo das raízes,

Por entre tons do morro

Que lembram a serra,

Pelo verde, da erva, tão garrido,

Pelas pétalas que o tornam colorido,

Por toda a parte, enfim,

Pairam aromas mil

De mil e uma flores,

Pairam partes de mim

Enfeitiçado pelo estio primaveril,

Por Portaló,

Por mil amores…

 

Mil amores de ti amada minha,

Tu que ao existires,

Me dás sentido,

Tu que me fazes rei,

Por seres rainha,

De mil amores contados

Ao ouvido…

 

Por ti eu sou alguém,

Dentro de ti, vassalo e rei,

Senhor da Bruma, e mais além

Serei

De tudo o que, por ti,

Eu conquistei.

Chamas-me e me invades

Em fervores,

Que, vindos de ti,

São mil amores…

 

Gil Saraiva

 

* Parte I I - Portaló ou o Sortilégio do Paraíso

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