V
"SORRINDO"
Senhor da bruma,
Sou como peça gasta e sem valor
Num imenso jogo universal.
Nada mais sou!
Apenas isso que escrevo e nada mais.
A vida é como um jogo,
Num gigantesco tabuleiro de xadrez.
O existir é complicado,
Problemático,
Uma imensa arquitetura
De jogadas
Cujos resultados
Demoram a ser vistos...
No final,
Ganhará quem melhor souber
Mexer as peças,
Quem soube prever e antever,
Quem teve visão!
Ou sorte, porque não,
Isso acontece…
Ninguém quer apenas sobreviver,
Sem qualidade de vida,
Em solidão,
Excluído do convívio
Dos outros seres humanos.
Todos procuram manter
A saúde, algum conforto
E o amor dos que lhes são mais próximos.
Para se vencer esta guerra
Contra o óbito,
Não é a vida eterna
Que ambiciona
Mas sim, enquanto se existir,
Manter na vida
A qualidade do ser e estar
Até um dia,
Finalmente,
Chegar a hora da partida.
O prémio,
Esse,
É morrer sorrindo!
Gil Saraiva
VI
“O CORCEL”
Nas bermas tornadas aquedutos
Onde as águas
Escorrem cristalinas,
Chapinhavam crianças
Bem latinas,
Em brincadeiras mil e diabruras…
O táxi não para
E vai seguindo,
Rumo ao destino, nas vias seguras,
E no banco detrás
Nós esgrimindo
Damos
beijos de boca
Em almas puras…
A natureza
Parece estar sorrindo,
Banhada de alegria,
Ao Sol fugindo,
Qual corcel que,
Por ravina,
Ao vento correndo
Dá à crina…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão
V
“RUMO AO MAR”
Do céu tudo fomos
Mirando,
São Salvador, a baía e umas ilhas,
Que lá no horizonte
Se focando,
Pareciam estar a muitas milhas…
Uns pontos verdes no mar
E na paisagem
Frente à baía,
Quase uma miragem,
Como gotas puras,
Meigas, generosas,
Quais gemas saindo preciosas
Do Atlântico
Que lhes presta vassalagem…
Por fim,
As mornas chuvas tropicais
Iam, passo a passo, lavando,
Nas ilhas,
O verde e o ouro naturais
Em instantes, minutos,
Já limpando
Os tons de jade puro e de cristais…
E enquanto o avião descia,
Em curva,
Sorrindo às nossas mãos
Entrelaçadas,
Ainda eu sentindo a vista turva
Beijava as tuas faces,
Pela luz, rosadas.
Descemos ao solo
Sem ravinas,
Rapidamente
O aeroporto se perdeu,
Pelas estradas brilhando,
Genuínas,
Lavadas pela chuva,
Que choveu…
Seguimos rumo ao mar
Só tu e eu
Nem enlace perfeito de encantar…
Gil Saraiva
* Parte I - Paisagens ou o Sortilégio da Paixão