Livro de Poesia - Sintagmas da Procela e do Libambo: O Vírus - VIII
VIII
“O VÍRUS”
Dizem que tudo teve início
Num bater de asa
Abruptamente interrompido por um caçador…
Foi na China, lá longe, nessa Ásia
Onde as tradições são ancestrais…
O morcego abatido
Foi vendido
Para o mercado de Wuhan, lá longe, essa Ásia
Onde as explicações são paranormais…
Diz um pangolim, que vem na história,
Que o rato voador jurou vingança
Antes de sucumbir, de se finar…
Dizem que ao pangolim doou o vírus
Talvez já no mercado ou a caminho,
Mas ninguém sabe ao certo
Se assim foi…
Morcego ou Pangolim, ou ambos, traficaram
O vírus do morcego para a raça humana.
Foi em outubro, talvez em novembro,
Ou no mês do Natal Ocidental,
Foi no último quartel de 2019
Isso é certo, seguro e é formal.
Coronavírus, mais um, dessa família,
Repleta de primos ou parentes,
Perfeitos malfeitores da humanidade,
Pelas maleitas criadas em humanos mais carentes,
Com menos cuidados ou saúde,
Mais pobres, que dinheiro dá virtude…
Todos os continentes do globo o receberam,
Ao vírus com honras de assassino
E carta branca para ceifar milhares de vidas,
Primeiros as mais velhas,
Mais doentes, mais perdidas.
Qual pandemia que se alastra e expande
Sedenta por gerar um novo caos,
Que o vírus não separa
Os bons, dos outros que são maus.
Ataca a eito
Com pezinhos de lã,
Ataca o Homem,
Deixando em paz a rã,
A avestruz, o gado, a andorinha,
Mas não perdoando, porta-a-porta,
Primo, parente, vizinho ou vizinha…
São agora milhões os infetados,
Pelo mundo espalhando aflição e dor,
E são sempre os mais velhos,
Doentes, desgraçados,
Os primeiros a lidar com o horror.
São milhões
Os que testaram positivo,
Centenas de milhares morreram já
E muitos outros lhe seguirão caminho.
Dobrando valores,
Infeções e mortes
Com o passar dos dias
Que o momento não está
Para outras sortes…
Para o dinheiro, recua a economia,
Com confinamentos exaltados
Pelos caixões
A todo o instante televisionados
Nos écrans de um mundo
Sem perdões…
Definham os índios na Amazónia
Dizimados sem dó ou piedade,
Salva-se um americano,
Um espertalhão,
Provando, ter sido tratado por
Bem mais que um milhão…
Sim! Um milhão
De dólares, de divisas, d’el contado
Que nunca salvará um desgraçado
De ficar sem trabalho, de roubar,
De ir para a prisão,
Sem conseguir tratar os pais ou os avós,
A madrinha, o tio, ou ele, aquele e o outro ou até nós.
Morrem centenas de milhares
No mundo inteiro
O desemprego dispara e já se alastra,
Que uma praga nunca vem sozinha.
Depois virá a fome e a miséria
Mas sempre para os mesmos do costume
Que o vírus protege quem pode
Enquanto aos outros ele apenas… (fogo!)
Ataca, sem sequer pedir perdão!
Tempos difíceis neste vinte, vinte…
Mais centenas de milhar
Irão morrer.
Infetados, com fome, sem casa
Ou sem trabalho,
Que estes são tempos de mandar
Para o baralho,
As cartas do destino
Já lançadas.
Gil Saraiva