Livro de Poesia - Estrigas do Dilúculo dos Lamentos: Espelho de Veneza - XVII
XVII
“ESPELHO DE VENEZA”
Na prata refletora, gasta, usada,
Um grito monstruoso, sem sentido,
Aparece espalhado, desmedido,
Ao refletir minha alma estilhaçada...
Meu resto de ego a braços com o nada...
Meu gasto corpo verme apodrecido!...
No espelho de Veneza, já partido,
A clepsidra da vida está parada,
Presa, no velho vidro cristalino,
Pelas correntes tétricas da dor...
Presa nas profundezas de um amor
Traído... para sempre... sem destino...
Já nem o espelho cumpre o seu mister.
Traído por sorrisos de mulher...
Gil Saraiva